Esta é uma oportunidade para debatermos a respeito de algo que impacta a vida de todos nós: o trabalho e seus impactos em nossa saúde física e mental.

Um tema que já pedia atenção antes de 2020, mas que a crise do Covid-19 acentuou. A pandemia é uma tragédia sufocante que, lamentavelmente, está ceifando dia após dia centenas de milhares de vidas. Além dela, outra tragédia já está em marcha: a exaustão, física e psíquica, dos trabalhadores de inúmeros setores econômicos em virtude da massificação das rotinas de trabalho. Com a crise econômica atual, a diminuição do número de postos de trabalho somada ao medo do desemprego pode estar levando os trabalhadores a uma sobrecarga sem precedentes – já que, convivendo com essa combinação explosiva, fica difícil ter coragem de impor qualquer mísero limite.

medo do desemprego + diminuição de vagas = sobrecarga nos que permanecem no mercado

Pensar sobre esse assunto – o aumento da intensificação do trabalho e a consequente sobrecarga sobre os trabalhadores – permite muitos recortes, afinal a hipótese vale para todos e é quase matemática: (medo do desemprego) + (diminuição de vagas) = (sobrecarga nos que permanecem no mercado). E, sim, nessa situação, podemos extrapolar a reflexão e pensar sobre todos os que, em ocupações informais, também estão precisando trabalhar mais e mais para manter a renda em dia.

Por isso, a ideia de colocar o trabalho no divã e a partir disso jogar luz sobre essa atividade tão vital para todos os seres humanos é algo bastante assustador e excitante. Afinal, o trabalho diz sobre quem somos – e faz isso duplamente! De um lado, ele é parte essencial da identidade de cada um e, desta forma, constitui nosso entendimento sobre nós mesmo no mundo (o lugar que ocupamos e o que merecemos por isso). De outro, ele é, também, e ao mesmo tempo, aquilo que fala ao outro sobre nós, nos localizando socialmente em relação aos demais. Nesta dupla via, o trabalho atribui, assim, um significado imaginário e simbólico de primeira ordem a todas as pessoas.

O trabalho pode ser observado em nossa sociedade por meio de muitos sintomas. Não se pode generalizar, obviamente, mas podemos conjecturar: algo no mundo do trabalho vai mal. Muito mal. Por isso, falar sobre esse assunto é necessário, pois o trabalho diz respeito a todos, enquanto conjunto humano, e a cada um, como sujeito.

Thatiana Cappellano é professora do curso Trabalho e Saúde Mental, que será realizado, no modo online e ao vivo, entre junho e julho deste ano.

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